Itinerário de uma caminhada colectiva
Teve o João de Freitas a gentileza de me convidar para escrever a apresentação deste livro. Acedi especialmente pela consideração e amizade que tenho pelo autor, que conheci quando dirigia o “Açoriano Oriental”, já lá vão alguns tempos.
Amizade e consideração construídas ao longo de vários anos de trabalho conjunto, que me proporcionaram a oportunidade de conhecer não apenas o fotógrafo, as suas capacidades e talentos profissionais, mas primeiro do que tudo o homem, na sua postura humana e cívica. Foi neste conjunto de factores que se consolidou uma amizade mantida através de um percurso que correu paralelo, destruindo o contacto diário mas não esmorecendo nem a amizade pelo homem, nem o apreço pelo profissional.
Por estas razões acedi escrever a apresentação deste interessante álbum fotográfico, a que acrescentarei o mérito da iniciativa, pois de técnica fotográfica nada percebo.
Olho para as fotografias e gosto ou não. Dos enquadramentos, características da luminosidade, perspectivas de ângulo, dos tipos de objectiva e de todos os outros detalhes técnicos nada sei. Até nem estou certo da correcção dos termos que acabo de empregar. Deixo a apreciação técnica aos críticos, se bem que considere bem mais importante as razões que levam João de Freitas a reunir neste livro um tão valioso conjunto de fotografias.
E a sua mais valia reside, principalmente, no facto de constituir um inventário inédito e necessário do património artístico, escultural, da ilha de S. Miguel. Porque não são, e isto seria já muito, apenas fotografias das estátuas e bustos, altos e baixos - relevos ou simples placas comemorativas. O inventário é completo pois cada uma das fotos está acompanhada de detalhada descrição com os nomes do homenageado e do escultor e respectiva localização. O rigor do fotógrafo vai ao ponto de anotar alguns trabalhos que não podendo ser fotografados, por estarem retidos da exposição pública, são referenciados no final do álbum.
Para além do inventário que este livro representa é, também, um sugestivo repositório histórico. Seguindo as suas páginas, cumprimos um itinerário que nos conta a história destas ilhas e a ilumina com a recordação das suas figuras mais destacadas, nos diferentes sectores da sociedade.
A estátua, o busto ou uma simples placa assinalando uma figura ou um acontecimento não está, apenas, a recordar uma pessoa ou um facto. Vai muito mais para além, pois o que se assinala é a obra que é legada pelas acções concretas que desenvolveu ou pelas ideias que defendeu e divulgou, abrindo assim aos vindouros caminhos de reflexão e estimulo para trabalhos que ajudaram a construir a comunidade, numa herança colectiva que este livro do João de Freitas ajuda a perpetuar. Os homens e o tempo passam e não voltam. As estátuas, os bustos e as placas podem ser destruídas pela maldade dos homens ou a acção de acidentes naturais. E são as páginas de um livro, deste livro para o património escultural de São Miguel, que asseguram a sua perpetuidade. Só por isso, valeu a pena dar-lhe vida.

Gustavo Moura